Um grande achado na Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador, pela Assistente Renilda do Vale.
LIVRO: Ex-voto
AUTOR: Gilberto Freire e Mário Barata.
EDITORA: Áries
A beleza de muitas das peças escolhidas por Mário Cravo Neto para serem fotografadas, em vista deste livro por ele programado, atinge tal realce que consolida a presença do ex-voto escultórico brasileiro no panteon reduzido, entre nós, das criações artísticas dotadas de grande intensidade plástica, realizadas por brasileiros. Após o livro preparado por Luís Saia desde 1938, e publicado em 1944 pelas edições gaveta, de São Paulo, esta é a segunda contribuição documental de caráter extraordinário com rigorosa seletividade a apresentar nossos ex-votos tridimensionais em campo editorial. A primeira, porém foi uma descoberta tardia e convém interpretar aqui essa circunstância da nossa civilização, pois ela explica muito do intercurso entre a cultura e o momento histórico e o entrecruzamento de diversas influências culturais. isso serviria de introdução ao estudo e conceituação dos próprios ex-votos, vistos como obra de arte,como se podem fazê-los mais de quarenta anos após o primeiro impacto que produziram na sensibilidade dos estudiosos de arte, etnografia e folclore no Brasil. (p.13)
O estudo – ao menos artístico – dos ex-votos escultóricos populares no Brasil é, portanto novo. Luís Saia, no citado livro, diz que ao sair de São Paulo para a missão etnográfica de 1938, enviado pelo departamento de cultura da prefeitura Municipal de São Paulo, nenhum dos responsáveis pela entidade e pelo planejamento do trabalho e nem os estudiosos que contactou já no nordeste, alertaram-no para a existência de ex-votos de madeira na região e sua eventual importância. Textualmente, o autor diz: “nem eu nem os que me informaram antes e durante a viagem sabiam nada acerca do milagre de madeira” (p. 9). Os responsáveis diretos pela excursão foram Mário de Andrade e Oneyda Alvarenga, esta especializada em dados musicais. (p.13)
O primeiro era estudioso dotado de grande cultura que todos lhe reconheciam e unindo a sensibilidade do olho ao interesse pela arte moderna e pelas artes populares. Na sua coleção de obra de arte, conservada no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, só há uma pequenina cabeça de madeira, como evidente ex-voto, mas de pouca importância. Incomparável é o valor do conjunto de pinturas e desenhos modernos. Vê-se que, como colecionador, ele não chegou a ter, mesmo a partir do final de 1938 até 1945, ano em que morreu, a oportunidade de dedicar tempo maior a este campo de formulações plásticas do folclore e do visionário brasileiros. Mário de Andrade, no segundo semestre de 1938, achava-se no Rio, dando aulas no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, criada em 1935 por Anísio Teixeira. (p.13). E fala de cubismo em arte atual, recusando a categoria de primitivo-estético para a contemporaneidade, mas realmente não alude à força e à forma das cabeças ex-votos elaboradas no Brasil, cuja conexão com a escultura de origem afro-negra Luis Saia apontaria, comparando-as subseqüentemente com o cubismo nas artes eruditas. (p.14)
Ao que tudo indica, portanto, esses ex-votos não participavam em 1938 das reflexões históricas ou estéticas sobre a cultura visual no Brasil. A grande inovação dá-se com o achado de Luís Saia por ele descrito, como vimos, como descoberta e surpresa, em seu livro de 1944. (p.14)
Saia estava preparado para sentir em justos termos o valor dessa revelação, embora nem todos os relacionamentos que fez e interferências que deduziu em torno dos ex-votos em questão sejam razoáveis ou comprovadas. Todavia, ele conseguiu captar em termos de conhecimento o essencial do seu aspecto formal. Sua vivência em São Paulo, onde desde 1922 o cubismo e suas conseqüências foram estudados pelos modernos, no ambiente que Luís Saia, jovem arquiteto, passou a freqüentar, tornando-se amigo de Mário de Andrade, explica isso. Este último, convidado por Rodrigo M. F. de Andrade para dirigir o setor paulista, hoje delegacia da SPHAN, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, bem cedo levou Saia para essa repartição pública, onde ele continuaria a trabalhar até o final da sua existência. O SPHAN sabe-se, unia o interesse pelo passado ao amor pela arte moderna, metodologia que foi bastante útil para abordagem dos ex-votos folclóricos. (p.14)
Por outro lado, em 1934 alcançara repercussão nacional o Congresso de Estudos Afro-Brasileiros realizado no Recife e, tanto ali quanto na Bahia, as pesquisas e os livros sobre a contribuição negra à vida do Brasil ficaram mais em evidência e foram produzidos em maior número. Esse clima “dos anos 30”, de interesse pelos estudos afro-brasileiros e negros em geral, confluiu com o conhecimento do cubismo para que Luís Saia valorizasse e bem interpretasse os ex-votos de madeira, considerando-os e classificando-os a partir de aspectos da arte afro-negra, que muitas cabeças apresentavam. As pesquisas sobre nossa medicina popular e os estudos das religiões (p.14) da mesma origem, então feitos ou publicados, conduziram Luís Saia a um exagero no tocante à ênfase com que ligou o ex-voto de madeira a uma função mágica, na qual a doença se transmitiria para o objeto. Assim, o estudioso praticamente deixou a tradicional função de ex-voto, de ser um agradecimento à divindade, substituindo-a por hipótese sobre participar esse tipo de objeto votivo de uma modalidade mágica de cura. A posição do primitivo em face da morte impressionou Saia, que força também uma interpretação de ligação dos ex-votos com “os costumes relativos aos mortos”, estes muitas vezes de grande intensidade emocional e mística. Ora, a morte não é assunto é assunto essencial aos ex-votos, que Saia encontrou em cruzeiros e capelas e não em cemitérios. Também nunca se aventou a idéia de que essas cabeças sejam representações de espíritos de defuntos. (p.15)
O caso dos “cruzeiros dos acontecidos” assinalando a fé católica vinda em socorro da vítima de violência ou desastre, não é indicativo de que o cruzeiro Isto é, a cruz, colocada em certos locais seja uma ligação com certos mistérios da morte, do que uma expressão de crença cristã, nesse domínio. (p.15)
O mais simples é ligar o ex-voto, com a função, ao agradecimento à divindade, observando-se paralelamente certas complexidades de inter-relacionamento entre contribuições católicas e de outra origem, atuando na continuação dessa forma de culto religioso, que não parece surgir, como tipo, em terreiros de candomblés e xangôs, o que é verificação importante para situar esta criação plástica e funcionalmente religiosa, no plano das religiões. (p.15)
As romarias católicas na Europa e no Brasil, as igrejas de peregrinação, comprovam a força, no catolicismo, da tradição do ex-voto de agradecimento. O fato do ex-voto de madeira esculpida ocorrer mais no nordeste, onde também existem mais os exemplares com “corte artístico” africano, comprovam que a expansão deste objeto, manufaturado freqüentemente por carpinas profissionais como soube, através de depoimento recolhidos por ele, Luis Saia, conjuga-se em áreas pouco industrializadas à situação de uma forte densidade de origem africana no local. È verdade que se torna curioso verificar que essa simbiose de uma forma de origem africana – para as peças em que esta se torna evidente – expresse um fervor de origem católica. No plano da teoria da arte há outros exemplos de uma mesma forma-estilo poder servir à conteúdos diversos, às vezes opostos. O neoclassicismo arquitetural mais agudo tanto serviu no final de século XVIII às expressões de republicanismo ou de revolução na França, como às pressões do absolutismo monárquico retardatário, na Rússia dos tzares. (p.16)
No caso da religião não se trataria de conteúdos propriamente opostos. A função do objeto seria exercida com uma aparente transferência de crença, ao serviço de mascaramento religioso contra a eventualidade de repressão de parte da religiosidade oficial, na hipótese de Luís Saia. Todavia a freqüência impenitente da deposição deste tipo de ex-voto em lugares católicos leva a presumir que se trata mais do que um simulacro de reverência à crua e ao que ela exprime como símbolo. A antropologia deverá pesquisar ater que ponto e em que grau o quantitativo de tradição de ex-voto, herdada diretamente dos gregos e romanos, era tão possante que obteve uma faixa de crenças populares, no amálgama do sincretismo alcançado desta vez a partir de costumes cristãos. E mesmo no costume cristão, pode servi-se eventualmente de soluções formais oriundas da tecnologia do corte imagístico de origem africana. Em arte, um dos elementos constitutivos é a técnica. E a técnica também pode servir a conteúdos diversos – ela é a mesma friamente impassível – como o século XX nos demonstrou com os exemplos mais lancinantes da guerra nazista. (p.16)
O aspecto sociológico e antropológico das causas e das funções dos ex-votos liga-se ao culto religioso e deverá ser mais estudado através de pesquisas que documentam as circunstâncias de uso dos mesmos em áreas marginais, revelem melhor a índole das crenças e práticas de seu culto, tanto nestas áreas como nas cidades de demografia religiosa intensa e “para-industrializada”. Não se conhecem cerimônias rituais (p.16) ou mistérios em torno da fabricação a deposição dos ex-votos, que são indicadas como simples atendimentos à formulação do agradecimento. Não se comprovaram soluções animísticas, nem entrosamento causal direto aos métodos de cura. Os dois nomes populares do ex-voto no Brasil, “promessa” e “milagre”, já indicam partir ele de uma promessa à divindade de modo genérico, a de levar o objeto-imagem a um lugar sagrado após o milagre alcançado, o cumprimento que reforçaria a gratidão transformada e exposta em objeto. Este poderia ser o retrato do próprio beneficiado-milagrado. (p.17)
Essa tendencialidade na doação de objetos (de forma e significado vários), como outras, obedece a certas constantes de soluções dentro do possível, nos tipos de atividades do ser humano, presentes através da História. Os romanos da antiguidade – que em parte acompanharam os usos de gregos nessas doações – colocavam os ex-votos não só em recintos edificados, mas em pórticos, terraços diante de edifícios e nas vias sacras que conduziam ao templo. O lugar seria sagrado também pela vizinhança ou complementaridade. Isso explica como hipótese inicial (a ser comprovada) que a utilização do cruzeiro simples para a deposição dos “milagres” não é resultado, no caso de um sincretismo com religiões não católicas, mas a própria expressão de tendência à substituição de um local sagrado por outro também sagrado, na medida em que a necessidade imporia isso, decorrendo de motivos topográficos. (p.17)
Entre os mesmos romanos ampliou-se a diversidade dos objetos ofertados – como ocorreria também na história do cristianismo – e além das figurações em relevo mais elaboradas, ocorreriam vasos sacros, objetos de variado tipo, representações da imagem do próprio doador e até de partes do corpo, objetos da cura, estas últimas, sobretudo, nos dons feitos ao santuário de Esculápio na ilha Tiberina em Roma, em local onde hoje há templo medieval e edificações de tipo pré-barroco, ainda com as belas pontes antigas ligando a ilha às imagens do Tibre. (p17)
No caso dos ex-votos brasileiros, quando se vê a cabeça retrato sem sinal de doença, pode ocorrer que seja a própria imagem do doador em tom respeitoso ou até “em prece” segundo, neste último caso, hipótese aventada para essas cabeças pela estudiosa Maria Augusta Machado Da Silva, que as designa de “orantes”. Daí a observação que ela fez sobre a posição do olhar em certos ex-votos. Mesmo que haja figuração de prece, essas peças constituem um dom, resultado de voto (promessa), sendo os objetos (p.17) que o externam concretamente. Eles são, portanto ex-votos. O termo em latim significa “consoante uma promessa”, ou mais literalmente “extraído de uma promessa”. (p.18)
N estruturação dos ex-votos têm se firmado historicamente os pedidos relativos a ações boas, o que se consolidou dentro da estrutura moral do Cristianismo, isto dito sem menosprezo por outras crenças onde o universo espiritual se constitui e comporta diferentemente. Faço a observação a serviço do maior aprofundamento da antropologia do ex-voto brasileiro, em busca de mais ou diversos elementos de eventual sincretismo religioso no país. Todavia, do exame superficial até agora feito pelos coletadores dessas peças é o agradecimento à “divindade” (santos, etc.) por graças recebidas, “boas em si” – não só a respeito diretamente de quem promete, em seu corpo ou estado de saúde, mas em relação a objetos de sua propriedade, como ocorre em peças do Instituto Joaquim Nabuco do Recife -, que resulta evidente e tem caracterizado as bases de seu estudo e de sua classificação. A referência aos ex-votos de máquinas existentes na coleção pernambucana acima referida é uma informação de Gilberto Freire e de Mário Cravo Neto, comprovando que se uma ferramenta agrícola, um trator ou um caminhão são quebrados, os possuidores podem fazer promessas, viabilizando o x-voto após terem obtido a graça. Esse agradecimento é obviamente católico nos casos tão numerosos dos ex-votos levados para Congonhas do Campo, Basílica de Nazaré em Belém do Pará ou Aparecida do Norte e Juazeiro do Padre Cícero, independentemente de hipóteses sobre o grau de catolicidade e de sincretismo, no empenho e nas condições da promessa feita do ponto de vista do próprio crente. Todavia, concretamente, pode-se definir a causa e também o modo de uso do ex-voto, como correspondentes a “moldes” católicos, mesmo se e quando adaptados. (p.18)
No Nordeste, a madeira mais usada em ex-votos é a de cheiro, que é de fácil entalhe. Mário Cravo neto chegou a encontrar ex-votos em que o aproveitamento de um galho de árvore, pela sua forma, que já indicava um pé humano, facilitou a execução da peça, que segundo ele conserva pedaço de casca de árvore na área onde estaria localizada a doença. È o único ex-voto que o fotografo encontrou pessoalmente e isso em um cruzeiro em Entre Rios, na Bahia. (p.18)
As pesquisas de Luís Saia, que também observou a freqüência de umburana como madeira suporte de ex-voto, localizaram-se, sobretudo na Paraíba e em Pernambuco. (p.18)
A coleta de material para as fotos de Cravo Neto foi realizada em coleções baianas feitas, sobretudo nas décadas de 50 e 60, como a de Renato Ferraz, Scaldaferri, Caribé, e Mário Cravo, hoje pertencentes à Fund. Gregório de Mattos, em Salvador, o que já implicou na existência de um gosto apurado de colecionadores na primeira seleção feita destas peças. Talvez por isso, o resultado nos dois casos, distanciados por 40 anos, se assemelha na freqüência de exemplares de “corte” africano, o qual também teria sido preferencialmente captado pelo gosto de Cravo Neto. Observe-se, para caracterizar a importância desse “corte”, que Saia coletava diretamente dos pontos de deposição e ante uma freqüência que parecia preponderante, pelo que ele concluiu. Todavia a conhecida foto de M. Gautherot a que nos refirimos ainda, feita em Canindé, Ceará, mostra exemplares de faturas rústicas e entalhe primário ou grosseiro em bem maior número, o que pode ter sido conseqüência momentânea de oficina trabalhando na época que o fotógrafo interessou-se em documentar ex-votos na região. (p.19)
As fotografias de Cravo Neto fazem intervir a mais o seu senso artístico da iluminação, favorecendo a visualização dos planos e relevos. As peças com a simplificação desses elementos formais tão do gosto da arte africana são de grande expressividade como as de número 36, 45, 101, 103 e 118. (ver fotos no livro ex-votos) O domínio do artesão, ao prolongar as curvas, unificando-as, ou ao mostrá-las, em alguns casos de orelhas, como pura síntese formal, em que o estilo é fortemente acentuado em relação à simples representação naturalista, a qual é ultrapassada. Por outro lado a simplificação em alguns rostos exprime um aspecto retratístico, no qual a elegância e a unidade de ritmos são praticamente clássicos. Observe-se que a mão de obra indígena na época colonial, orientada por religioso, atingira também um grau de classicidade na pureza da conformação dos rostos e na força de sua serenidade digno de nota, nos casos conservados dos sete Povos das Missões. (p.19)
Apesar de Luís Saia, em sua louvável pesquisa pioneira, haver descartado quase in limine a hipótese da mão-de-obra de origem indígena ter contribuído para a difusão do uso do entalhe na madeira para a confecção de ex-votos, essa hipótese deve ser levada em consideração devido à habilidade manual do indígena e seus descendentes imediatos, confirmada também pela talha barroca em Santo Alexandre de Belém do Pará e em capelas seiscentistas como a de Embu, em São Paulo. A presença numerosa do indígena “assimilado” no Nordeste é fator ponderável no exame da questão, (p.19) embora quando ocorra o “corte” africano deva considerar-se que o seu protótipo fora criado por carpinas negros, mesmo que não haja posteriormente detido o monopólio de sua forma. A vida e a expansividade das formas, irradiando-se além dos seus focos básicos de criação é fato notório em História da Arte. (p.20)
A maioria das peças de barro nas coleções estudadas por Mário Cravo foi encontrada em Sergipe, segundo ele, informou-me igualmente que peças de madeira com tratamento primoroso, como a cabeça de cavalo e a cabeça de homem pintada de verde, são de Pernambuco, tendo sido coletadas na pequena cidade de nome Santa Quitéria. Ele teria identificado como peças de maior dramaticidade de expressão as coletadas em Monte Santo, na Bahia. São experiências empíricas a se somarem às de outros pesquisadores como já sugeri neste texto. (p.20)
É urgente, porém, que essas outras pesquisas que complementarão os esforços de Luís Saia, no plano dos estudos dos ex-votos esculpidos, e de Cravo Neto, no dia da seleção estética de exemplares do Nordeste e sua publicação para exames comparativos, se façam já, pois as transformações sociológicas de nossas tradições e cultos populares entraram de novo em ritmo acelerado, dificultando a coleta de elementos primordiais que possam ser cotejados com os recolhidos na primeira metade deste século. (p.20)
Anote-se, porém, entre os ex-votos que figuram neste livro, os feitos de prata e ouro que são da Bahia, área em que se criaram os balangandãs, também de metal precioso, como resultado da presença africana na região. Ocorrem também ex-votos de barros, freqüentemente emergindo de soluções visuais arcaicas em que o acabamento não busca o harmonioso ou definições agradáveis da forma, contentando-se com uma indicação sumária mais vibrante de feições, riscos e planos fundamentais, tratados com energia gestual criativa, mais do que com uma tendência ao equilíbrio sem dissonâncias e ao acabamento minucioso de caráter naturalista. (p.20)
O exame artístico das obras selecionadas, que estão acima da média de qualidade dos ex-votos de madeira em geral, já é suficiente para comprovar que dentro da arte brasileira esta expressão pôde atingir um nível de valor altamente representativo das possibilidades populares na criação estética. Na cerâmica popular colorida do Nordeste, certos valores de pitoresco e de representatividade primam sobre a força profunda da plasticidade, que é em arte um dos elementos mais capazes de fornecer o impacto de força visual no seres humanos. A religiosidade deve contribuir para a solução alcançada nos ex-votos de pureza, com um apelo a colaboração das raízes mais profundas do elemento de origem africana passado a viver no Brasil. Conforme já vimos, as seleções de Saia e de Cravo Neto são limitadas em áreas geográficas, mas já constituem dados concretos, empíricos, a se somarem a outros a serem obtidos em futuras pesquisas documentadas. (p.21)